Podcast #011 – Mãe solo volta pra faculdade, aos 45, em outro país
Related Posts
Trabalhar pela Internet: Quando a empresa está no Brasil e a gente, em Portugal
A nossa facilidade em trabalhar remotamente contribuiu um tanto na nossa decisão de mudar.
Viemos abertos para trabalhar presencialmente aqui e dar uma reduzida nos negócios existentes ou trabalhar em projetos paralelos até que a vida se estabilizasse, sim! Mas poder continuar com a empresa que já existia influenciou muito a nossa escolha.
Nós continuamos com o que já fazíamos no Brasil, então esse será meu foco aqui, mas existem várias formas de se trabalhar online. Dependendo da sua área, é possível encontrar sites de freela, empresas especializadas em trabalhos mais simples, tem o bom e velho networking e também aquela googlada em vagas específicas.
O modelo de negócio não mudou de um dia pro outro
A primeira coisa que acho importante pra você que pensa em viver de um negócio já existente é estabelecer que, pelo menos pra gente, esse modelo não veio “do nada“.
Eu trabalho com moda desde 2004, mas só abracei a consultoria de imagem e estilo como atividade principal ali pra 2009. Ou seja, depois de 5 anos trabalhando prioritariamente com isso e testando muitos formatos diferentes, comecei com os primeiros atendimentos individuais online. Isso foi no final de 2014. O Gustavo nem era oficialmente meu sócio na época.
Em 2015, abrimos a primeira turma da Aula de Estilo – o primeiro dos cursos que ofereço à distância. Eu já trabalhava bem com grupos em workshops presenciais, então isso também me ajudou a entender como atuar no novo formato.
Ainda assim, o online não era o foco principal da empresa.
Esta era só uma maneira que eu encontrei para atender pessoas que queriam passar pela minha metodologia de consultoria de imagem, mas moravam em outros estados e países. Eu inclusive tinha clientes e alunas que moravam fora e iam até SP para fazer atendimentos presenciais comigo – essas opções vieram pra facilitaram o processo.
Como as coisas estavam quando a gente veio
O número de clientes remotas foi aumentando e, em 2017, quando a gente decidiu vir para Portugal, ele já era uma parcela expressiva da empresa.
Eu já tinha mais 2 formatos de cursos online (incluindo o curso de formação de outras consultoras, que há anos existia só presencialmente), mais 1 formato de atendimento individual, mentoria e supervisão para outras profissionais e muitos planos de projetos remotos também.
Ao longo dos anos, acabei juntando outras formações e saindo da curva da consultoria de estilo padrão e isso ajudou. No final de 2016, criei um curso online novo e consolidei uma metodologia que funciona muito bem à distância (porque eu trabalho aspectos que vão muito além da roupa atual). Comecei a ter etapas online até nos processos que obrigatoriamente envolviam trabalho presencial. Isso tudo acabou servindo como transição.
Mas sim, aqui a gente sempre trabalhou pra burro!
Mais pontos para Portugal
Eu já tinha uma base de portuguesas me acompanhando há alguns anos, quando eu nem sonhava em sair do Brasil. Além do idioma, que eu já nem vejo como uma facilidade, também tinha o acordo entre os 2 países para evitar a bitributação somando pontos na escolha por Portugal.
Eu também já tinha clientes e alunas espalhadas pela União Europeia, sem contar as leitoras dos meus livros. Ou seja, mesmo que não propositalmente, já havia rolado um teste pra entender o meu mercado por esses lados também.
Há anos eu também ensaiava atender em inglês. Levando em conta os outro fatores, apesar do idioma, Portugal também é um facilitador neste projeto – que roda em segundo plano, muito calmamente, por enquanto.
E por que não fechar no Brasil?
Mesmo com tudo isso, fechar a empresa do Brasil nunca foi uma opção.
A gente não saiu do país com previsões nem de ficar, nem de voltar. Estar aqui é ainda um teste. A ideia era se abrir para uma nova experência, curtir lugares novos e ver no que dava, mas não pensamos em datas para permanecer, voltar ou mudar para outro lugar.
Eu ainda tenho uma parcela enorme de clientes e alunas brasileiras que lá residem.
E mesmo que a gente resolva ficar por aqui “pra sempre”, manter a empresa aberta ainda faz algum sentido porque retornar ao Brasil por temporadas e abrir agenda para os atendimentos presenciais por lá continua sendo parte dos planos.
Organizando a base
Mas foi preciso considerar muito mais coisas quando decidimos fazer esse movimento.
Uma contabilidade que entenda modelos menos tradicionais de negócio, por exemplo, era indispensável. A gente já trabalhou com outros escritórios antes que mal conheciam ferramentas simples de pagamento online e isso complicava bastante a vida.
Quando batemos o martelo na mudança, buscamos por escritórios especializados – infelizmente, não posso dizer que essa é uma dor resolvida, mas já melhorou. Aceitamos indicações, inclusive!
Vale lembrar também que real não é dólar – e muito menos euro. Ou seja, é preciso considerar o cenário mais absurdo para flutuações de moeda!
Depois de alguns meses aqui, já não vivíamos exclusivamente com os ganhos do Brasil, mas no começo essa foi uma questão bem complicada. Quando a mudança começou a ser planejada, o euro valia substancialmente menos do que vale agora, em comparação ao real – e as previsões daqui pra frente não são nada animadoras.
Além de pensar no mercado e em como o trabalho de fato poderia funcionar e escolher um escritório de contabilidade mais alinhado, foi preciso considerar outros tipos de apoio. Por exemplo, procuradores caso seja necessário resolver algo no Brasil.
Procuração é responsa para ambos os lados, né? Para além da confianca, é preciso saber da disponibilidade de resolver qualquer coisa que pintar.
E lembra do coelho da Alice?
Eu não dou o mesmo peso para aquela fala clássica de “pra quem não sabe pra onde vai, qualquer caminho serve” que as pessoas que a citam, mas no que diz respeito aos negócios, bom… é melhor ouvir o coelho!
Então ainda que você venha no teste abertx para as possibilidades, como a gente veio, sim, é preciso ter alguma clareza do seu projeto maior. Até porque ela vai te ajudar a centrar quando as turbulências vierem.
Primeiro, vale pensar se a sua empresa vai virar um trabalho paralelo ou se a ideia é expandir para a nova região também. Ambos podem funcionar, especialmente quando continuar como está talvez não seja a melhor opção.
Se a ideia for expandir, você vai ter que entender a legislação do país. Essa opção ajuda muito se você quiser evitar um possível infarto causado pelas oscilações de câmbio.
Isso foi importante por aqui.
Tendo empresa no Brasil, era possível emitir nota para clientes que morassem no exterior, mas como não valia a pena financeiramente pra gente agora, acabamos abrindo atividade em Portugal.
Então hoje, na prática, são 3 empresas – uma nossa no Brasil e uma de cada um de nós aqui.
E quando a gente fala de organizar a base, parceiros legais também são importantes. Embora eu tenha formatos bem profundos de atendimento no online, existe uma única ferramenta que não é possível aplicar à distância. Então, criei um banco de ex-alunas aptas a cuidar das clientes que ainda estão em algumas cidades do Brasil e tiverem interesse por esse complemento. Dependendo do que você planeja, é importante listar isso também!
Planejamento, organização e resiliência
Em resumo: sem esses 3 aí não vai rolar, não. Se com bastante planejamento a coisa já sai do controle, imagina quando você não faz a menor ideia do que tá fazendo?
Então, sim, é bom ter um plano A, um B, um C e uma mente aberta para qualquer coisa que fuja completamente à sua imaginação.
Emprender já não é fácil e as variações vão testar os seus limites.
A gente pensa muito na variação monetária, mas também tem a questão do fuso. Pra algumas atividades, pode ser interessante estar à frente do Brasil. Isso dá a sensação de um tempinho extra, o que é bom, mas uma baita confusão mental se você lida com hora marcada e trabalha com diversos fusos diferentes.
Atualmente, tenho clientes no Brasil, nos EUA, na Holanda, na Alemanha e na Espanha – além de Portugal. O Gustavo começou a atender clientes de comunicação e marketing em paralelo a nossa empresa e tem gente no Brasil e no Canadá.
Conciliar isso pode deixar qualquer um meio biruta – especialmente quando os horários de verão e inverno mudam no meio do caminho. Como eu ainda não encontrei a ferramenta perfeita, sigo no Tetris com o calendário e vou checando a agenda 343 vezes pra não dar margem pro desastre.
Eu tive que deixar alguns planos pelo caminho no começo, como uma ida ao WebSummit pro qual já tinha ingresso. O meu sistema de bloquear horários específicos da minha agenda para os atendimentos também foi pausado enquanto eu entendia a melhor forma de fazer isso sem prejudicar a empresa.
Eu bloqueio quantidades, até pra preservar a qualidade do atendimento, mas tive que atuar com uma flexibilidade maior nos horários de atendimento do que eu tinha antes. No fuso maior, chego a dar aula às 23h daqui pra bater com o horário das 19h do Brasil. Faz parte.
Aprendendo com os erros
Certamente a gente fez várias cagadas nessa mudança que poderiam ser evitadas. Uma delas foi a renovação do certificado digital.
A nossa contabilidade tem esse requisito como critério e por causa do cronograma de mudança, a gente deixou pra fazer daqui. Sabíamos que seria um pouco mais caro, mas não tínhamos noção da paulada – a sorte foi a variação de preço entre os fornecedores.
No meio de tanta coisa pra resolver, acabamos esquecendo de confirmar isso e saiu quase mil reais a mais do que a gente pagaria se fizesse no Brasil. Os meses que a gente perderia se tivesse renovado antes de vir ainda compensariam esse custo tão mais alto.
Uma das coisas que a gente ainda precisa melhorar é a organização financeira. Trabalhamos com 3 moedas e prazos diferentes (além de ter contas para cuidar no Brasil) e simplesmente ter um calendário pra transferir o dinheiro pra cá quando necessário não é suficiente quando o câmbio está tão instável. Essa é uma das questões que vários dos nossos amigos expatriados também estão tentando entender, então prepare-se.
Mas a principal coisa que eu teria feito diferente, olhando pra trás, era programar um bloqueio na minha agenda por alguns meses, pra poder finalizar a mudança.
Quando mudamos, eu tinha reduzido o número de compromissos, mas ainda tinha clientes e cursos em andamento. Mesmo com todo o planejamento, subestimei os imprevistos.
Isso foi ótimo para distrair a cabeça de todas as surpresas que rolaram até que a gente se instalasse finalmente, mas fez com que a busca por estabilidade dos primeiros meses fosse mais cansativa também.
A vantagem maior
A gente ainda tem muita coisa pra viver e resolver – inclusive seria bem legal trocar ideia com quem já passou e planeja passar por isso. Talvez esse post até seja atualizado em algum momento.
Mas na prática, essa decisão já abriu nossas cabeças para novas oportunidades (como o Guarda-Roupa Móvel – curso e agora site!), desengavetou projetos antigos, deu mais ânimo para cuidar de projetos que já existiam e deu aquela refrescada boa nas ideias.
A mudança de perspectiva também serviu pra que a gente repensasse algumas estratégias que não estavam funcionando e desapegasse de projetos que não faziam tanto sentido também. Então, só por esse refresh, já valeu bem a pena!
Imagem: Brooke Cagle via Unsplash
Mudando de país? Leia este livro
Entre 2014 e 2018, mudei de casa 3 vezes – 6 ou 7, se contarmos aquelas que foram nossas casas provisórias também. Acabei me tornando especialista em mudanças, mas um único livro transformou esse processo.
Primeira mudança: subindo a serra
Primeiro, mudei de cidade. Subi a serra, como dizemos em Santos/SP e fui morar na capital.
Por não acreditar em meias mudanças, deixei apenas um pijama e uma escova de dentes naquela que passou a ser a minha segunda casa.
Eu já vinha nessa onda do desapego desde 2012, mas naquele novembro de 2014 intensifiquei. Minha métrica era: os livros tinham que caber em uma estante; as fotos, em uma caixa daquelas de 32L; as roupas e acessórios, entre 2 portas e 8 gavetas; as papeladas, no espacinho minúsculo da minha escrivaninha.
Segunda mudança: não tem nada aí pra vender?
No meio de 2016, Gustavo e eu fomos morar juntos. Um apartamento de 2 quartos e 80m2 para um casal sem filhos. Muito mais espaço do que precisávamos, mas mesmo quando a minha família resolveu organizar uma espécie de chá de cozinha, compramos e pedimos apenas o necessário para existir na casa.
Como detesto perder tempo com coisas que não estou usando, segui no destralhe constante – ele brinca que a minha frase favorita é “não tem nada aí pra vender, doar ou jogar fora?”.
Eu não me reconheço como minimalista, mas digamos que eu tento seguir um Balu’s way of life…
Terceira mudança: Partiu Portugal?
Em meados de fevereiro de 2017, resolvemos mudar para Portugal. Viríamos em 2018, mas eu queria fazer a transição com calma, então intensifiquei o desapego do pouco que me restava.
Foi quando esbarrei em uma matéria da Vida Simples: outra mulher desapegada contava sobre a sua experiência com um livro chamado “Jogue Fora 50 Coisas“.
Olhando assim, parece fácil. Mas a proposta tem uma pegadinha: cada categoria conta apenas 1 ponto.
Me pareceu um desafio e tanto. Jurava que ia parar nos 25 – afinal, eu mesma publiquei um livreto sobre desentulhar o armário, passei pela Marie Kondo e vários livros sobre organização que você possa pensar aí.
Abracei o desafio com o espírito “se eu chegar aos 10, já ajudou muito”. Passei dos 100. Se não me engano, bati os 125.
Menos esotérico do que a Magia da Arrumação
E olha que eu adoro um paranauê esotérico… Mas esse foi muito mais eficiente.
Esse processo me fez lidar com a tralha que eu deixava para depois – como a enorme caixa de lembranças e algumas papeladas de histórico profissional, que eu só enfiava em uma caixa e ia movendo de casa em casa.
Foi o estímulo que me faltava para organizar as fotos da infância, escanear todas aquelas que me interessavam e distribuir pela família o que há muito não me pertencia.
Também me fez pensar ainda mais seriamente sobre o que eu queria para a minha vida.
A cada objeto, vi a vida passar como um filme, relembrei motivos para celebrar (quantos deles eu não deixo de lado na autocrítica do dia-a-dia?) e até resgatei amizades queridas que haviam se perdido por conta de maus entendidos.
Melhor do que mudar com as malas leves, foi saber que deixava menos coisas por resolver para trás – o que foi especialmente importante nos momentos caóticos da nossa mudança – mas isso é papo para outro post.