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Como fazer amigos em outro país?

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Uma das minhas maiores preocupações quando decidimos nos mudar era de ficar sozinha, de ter dificuldade para estar com pessoas e interagir.

Eu gosto de gente. Eu trabalho com consultoria de estilo e criei uma metodologia própria porque eu gosto de gente.

Acontece que quando você já passou dos 30, casou e muda para outro país sem planos de estudar ou mesmo trabalhar dentro de um escritório, onde você naturalmente conheceria novas pessoas, a coisa fica um pouco mais complicada. E como as pessoas que nós conhecíamos aqui em Portugal estavam – teoricamente – em Lisboa ou Faro, rolou esse medinho.

Resultado: no planejamento da mudança, entaram estratégias para cuidar da vida social também.

No fim, tão logo pisamos no Porto começamos a reencontrar e conhecer tanta gente organicamente que não precisamos das originalmente planejadas. E é claro que conhecer pessoas é diferente de construir amizades legais e duradouras, mas tem sempre um primeiro passo, né?

E como todo mundo sempre pergunta como lidamos com isso, fiz uma listinha básica do que pensamos, do que fizemos e do que ainda mantenho no meu radar.

Ajuda básica da internet para conhecer gente legal

os apps específicos para conhecer pessoas

Quando a gente resolveu mudar, fui atrás de apps/redes que já conhecia, mas não usava. Como o Internations e o Meet Up. Em ambos, você cria o seu perfil, coloca os interesses e região em que está e recebe notificações quando rolar algo bacana.

A diferença maior é que o primeiro é focado exclusivamente em expatriados e tem funcionalidades gratuitas e pagas para o usuário. O segundo é mais focado em temas de interesse e você pode ter cadastro mesmo que more no seu país de origem. Além disso, o plano pago do Meet Up é mais pra quem pretende ser anfitrião e organizar seus próprios encontros, mas se você pretende só frequentar como participante é gratuito.

No mais, a dinâmica de ambos é mais ou menos parecida. Você filtra por região e assunto de interesse e vai encontrar desde encontros de happy hour genéricos até clube do livro, encontros de foodies ou de prática de outro idioma, por exemplo. Alguns desses encontros são gratuitos, em outros você paga o que for consumir (no caso de um bar, por exemplo) e outros têm um ingresso de acordo.

Enquanto no Porto, chegamos a ir a um Meet Up sobre Marketing Digital que era mais uma palestra do que uma reunião de pessoas interessadas em assuntos afins, mas não chegamos a frequentar nada do Internations. Por Aveiro ser uma cidade menor, quase não tem nada desse tipo por aqui – mas para quem está em cidades maiores, pode ser bem legal.

conhecendo gente nova em eventos específicos

O Meet Ups facilita muito a busca, mas é sempre legal pesquisar por grupos e eventos por fora dessa plataforma também. Por exemplo, se você trabalha em áreas criativas, tecnologia, empreendedorismo… dá uma busca no Google para saber sobre eventos relacionados a isso.

Para as mulheres criativas, por exemplo, existe o Ladies Wine And Design – que acabei descobrindo em Aveiro por indicação de uma amiga. Também soube por essa amiga que o Creative Mornings também rola no Porto. Esses são eventos de áreas específicas que acontecem por várias cidades do mundo, por meio de organização local (você pode inclusive procurar as regras e ver se é possível organizar um na sua região), mas todos começaram em algum lugar.

Em São Paulo, eu cheguei a frequentar o Café Com Empreendedoras – da Rede Mulher Empreendora.

As áreas de criatividade e tecnologia costumam ter mais desse tipo de coisa, mas nada como uma pesquisa direcionada para descobrir se a sua área tem algo.

Se o seu foco é empreendedorismo, existem redes específicas para Networking no mundo todo – como o BNI, por exemplo.

conhecendo pessoas quando se trabalha em formato Home Office

Pra quem trabalha de casa, interagir com outros seres humanos é um desafio ainda maior. Muita gente aluga espaço em coworking por conta disso, mas não posso falar muito sobre essa experiência porque nunca cheguei a fazer isso.

Mas quando eu estava em São Paulo, conheci o conceito de Hoffice e participei de alguns encontros do genero. Foi bem interessante.

Traduzindo livremente do site, Hoffice.nu é uma rede com foco em criar espaços de trabalho fantásticos e gratuitos – e fazer com que seja possível, então, que as pessoas realizem seus sonhos.

A ideia é que uma pessoa ofereça sua casa para que outros membros da rede possam passar um dia trabalhando juntos. Pra não virar bagunça, existe toda uma dinâmica de compartilhar seus objetivos no começo do dia e fazer pausas para descanso e bater papo, além de almoço. A parte da alimentação é combinada entre o grupo (dá pra rachar algum delivery, sair pra comer em algum restaurante perto, cada um leva um prato pra compartilhar) e a ideia é que as pessoas se conectem e tenham companhia durante um dia de trabalho, sem o investimento que um coworking requereria.

Essa é a estrutura básica. Mas eu já participei de eventos de Hoffice em escritórios mesmo de alguém que tinha bastante espaço disponível e até já vi grupos levando a ideia para um café ou biblioteca.

conhecendo pessoas locais, mesmo que você esteja só de passagem

Uma proposta que eu sou bem curiosa pra testar é o Eat With. Por meio dessa plataforma, você agenda uma experiência com alguém local. O Eat With começou há uns anos com foco em refeições, jantares ou almoços (daí o nome), mas aparentemente a plataforma expandiu para aulas de culinária e outras experiências (como um concorrente do AirBnB experience).

Não é exatamente para fazer amigos, mas pode ser interessante para saber mais sobre a cultura local – tanto por interesse, quanto para sacar pontos importantes para se integrar melhor ao seu novo ambiente.

conhecendo gente nova pelos grupos do Facebook

Até pra entender como nos planejarmos melhor, o Gustavo se enfiou em tudo quanto era grupo de Brasileiros em Portugal ou no Porto quando estávamos no Brasil.

Confesso que eu não consigo administrar essa dinâmica em grupos de Face com milhares de pessoas, então ele sempre mexeu mais nisso do que eu. Acabou que por ele ser bem ativo, a gente se encontrou pra um café – e depois outros passeios – um pessoal bem legal.

Por meio de um desses grupos, o Gustavo também ficou sabendo que a Mari, organizadora da rede de Empreendedoras Pelo Mundo, estava em Aveiro e tinha um grupo de whatsapp por aqui (não mais ativo). Acabei conhecendo várias mulheres bacanas por causa disso e até dando a minha primeira palestra na terrinha pra elas.

usando o instagram para fazer novos amigos

A internet nos trouxe muita gente mesmo!

Já do Brasil, conversávamos com alguns que conhecíamos do Youtube e acabamos indo jantar ou tomar café com eles quando chegamos no Porto – e até conhecendo outras pessoas por tabela.

Uma das ferramentas mais importantes foi o insta. Não só porque facilitou a interação com quem a gente seguia, mas porque trouxe gente até nós também.

Como eu usava o meu perfil para trabalho e não daria conta de outro insta sozinha, nós criamos um instagram pessoal compartilhado pra documentar a mudança e manter as atualizações pra família e amigos que ficaram no Brasil, mas o perfil acabou trazendo muita gente legal e convites também.

No Brasil, a gente não seria tão aberto – confesso. Mas aqui a política foi de abraçar todo mundo que vinha com um papo legal. Se no offline fosse chato, a gente simplesmente não repetiria. Deu tão certo que vários cafés viraram jantares e rolês de longas horas e a gente conheceu muita gente querida por causa disso. Incluindo várias das minhas pessoas favoritas desta Portugal.

Aqui vale ressaltar que não adianta chegar no inbox da pessoa mandando um “oi, tô chegando aí, vamos sair?” sem que ela nem saiba quem você é! No nosso caso, acabamos saindo com gente com quem já interagíamos há um tempo e o encontro acabou sendo bem natural.

Outras formas de conhecer pessoas em outro país

coincidências da vida

Esse mundo é muito louco e eu acredito mesmo que nada é exatamente uma coincidência. Tanto que no perrengue de mudar de cidade, essa rede que a gente descobriu por aqui fez uma diferença absurda quando achar apartamento se tornou impossível.

Tanta gente se mobilizou, que eu fico até emocionada de lembrar da sorte que a gente deu de encontrar tanto carinho.

Antes de pisar no Porto, só sabiam da nossa mudança os parentes e os amigos mais próximos. A gente só postou nas redes, abertamente, no dia em que chegamos.

E nessa, muitas pessoas com as quais a gente não tinha contato há um tempo pintaram contando que estavam pra cá também. Ou que tinham alguém muito próximo que já estava aqui!
Isso rendeu muitos reencontros legais – de gente que por mudanças naturais da vida já não víamos até ex-chefes. Sem contar quem já acompanhava o meu trabalho antes de eu mudar!

Uma das histórias mais curiosas é do Rodrigo e da Vanessa, irmã de uma colega de faculdade do Gustavo, que estavam planejando a mudança pro Porto quando entraram em contato. Depois da nossa novela, eles resolveram vir para Aveiro também e, coincidentemente, o apartamento que eles alugaram (ainda do Brasil e sem saber do detalhe) era exatamete no nosso prédio.

Outra, das tantas, foi descobrir que em Aveiro tinha uma colega de uns cursos online de empreendedorismo que eu andei fazendo. Por conta de um desses cursos, conheci uma portuguesa muito querida também.

a nossa cara de pau para conhecer pessoas

Eu sou muito tímida, embora quase ninguém acredite nisso. Mas eu tenho meus surtos de cara-de-pau às vezes e isso acabou ajudando.

Quando a gente mudou pro prédio, praticamente inabitado, teve todo um drama da Internet que nunca era instalada – e bom, internet é ferramenta essencial para o nosso trabalho. Querendo entender se outras pessoas passavam pelo mesmo problema e como tinham resolvido, fomos bater na porta dos vizinhos de andar que eu tinha cruzado no elevador e portanto sabia que haviam mudado 2 semanas antes de nós.

Carioca (eles) é um povo bem caloroso, né? E se tem uma coisa que ajuda a unir as pessoas é uma bucha. Receita pro sucesso.

Depois disso, vendo o pessoal começando a habitar o prédio, o Gustavo teve a ideia de fazer um grupo no whatsapp pra trocar ideia, saber quem tava por aqui e até entender como as coisas funcionavam nesse novo país. Ele criou o grupo e imprimiu uns folhetinhos com o QR code pra quem quisesse entrar e a gente acabou conhecendo mais alguns vizinhos brasileiros assim também – o que foi especialmente divertido na época da Copa.

formas inusitadas de conhecer pessoas

Eu tenho muito interesse e alguma formação em terapias alternativas e logo que chegamos descobri que haveria um encontro de trocas entre terapeutas de diversas linhas.

Esse eu descobri estando atenta aos lugares pelos quais passava. Notei um espaço direcionado a isso, peguei o nome na placa e procurei saber mais. Resultado: descobri que teria esse evento por lá.

Venci minha timidez e também acabei fazendo amizade com uma aveirense mais do que querida.

Tô sempre de olho em encontros de assuntos que me interessam, para interagir com gente nova também. Mas logo que viemos para Aveiro, chegamos a conhecer pessoas de formas bem inusitadas, como o ponto de ônibus do centro de saúde. Conhecemos um casal por meio do qual ficamos sabendo de outros grupos de brasileiros daqui e até fomos parar em uma das festas.

Os melhores países para se conhecer pessoas

É fato que algumas culturas facilitam ou dificultam a abertura para novas interações. E ainda que não dê pra tirar a parte pelo todo, é legal ter em mente como é esse aspecto no lugar pro qual você está indo, para já dosar as suas expectativas.

Todos os anos, o Internations (que eu citei ali em cima) faz uma pesquisa para entender sobre as características de cada lugar. O nome desse relatório é Expats Insider e em 2018 mais de 18.000 pessoas de 178 nacionalidades, vivendo em 187 países, responderam a pesquisa e contaram as suas impressões sobre vários aspectos de ondem vivem.

Parece que os latinos de fato são acolhedores e por isso os costa-riquenhos, mexicanos e argentinos ganharam no quesito “fazer novas amizades”. Mas não se deixe limitar por isso! O país mais hospitaleiro foi Bahrein (Golfo Pérsico) – segundo a galera que respondeu a pesquisa, é fácil de se adaptar mesmo que você não fale árabe. E o Brasil nem é tão amigável quanto os brasileiros acreditam… ficamos atrás de mais de 30 países.

Conversando com qualquer pessoa

Aí você chegou aqui e pensou “Legal! Uma baita lista de onde conhecer gente fora do circuito trabalho-universidade-academia, mas… como interagir com estranhos?”

Ninguém bota fé, mas apesar de adorar conversar, eu sou muito tímida. Então, eu tô sempre procurando coisas que me ajudem a me virar socialmente.

Já faz muito tempo que eu li o clássico Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (Dale Carnegie) e apesar de dispensar algumas ideias mais manipulativas, concordo que existem algumas estratégias ali bem interessantes pra quem precisa melhorar o traquejo social.

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Outro livro nessa linha, mas mais atual, é o How To Talk To Anyone (Leil Lowndes). Algumas passagens parecem um pouco repetitivas, mas o livro tem algumas dicas bem interessantes – incluindo uma que ensino para as minhas clientes de consultoria: usar algum elemento que possa ser usado como puxador-de-conversa na hora de se vestir.

Por falar em se vestir, usar roupas que te deixem confortável não só em termos de mobilidade, mas consigo mesma é tão importante quanto usar peças que se adaptem ao nível de formalidade do lugar em que você está. A sua imagem pode ter um impacto enorme na sua autoconfiança, então capricha!

A Luiza Junqueira e a Jout Jout também gravaram esse vídeo ótimo sobre como puxar conversa sem aquele lance de “tá chovendo, né?”.

Fez muito sentido pra mim esse lance do assunto inicial ser usado também como filtro pra quem a gente quer ter na vida. Melhor que conhecer gente em quantidade é conhecer em qualidade, né?

Como Conhecer Pessoas Interessantes (dica bônus)

Quando ainda morávamos em São Paulo, chegamos a participar de alguns eventos do Encontro Com Propósito e do Máfia, comandados pela Karina Barretto. Hoje a Ká não faz mais esses eventos, mas ela fez um TEDx maravilhoso há uns anos falando sobre esse como conhecer pessoas interessantes. Recomendo demais que você assista abaixo!

Eu e a Ka já falamos sobre isso em alguns vídeos que gravamos pro meu canal e pro do EcP.

 

O mais importante

Hoje, por conta da vida e do trabalho, a gente tem menos disponibilidade para pensar nisso, mas na lista também estavam cursos livres de idiomas e outros temas que gostaríamos de aprender. De repente até algum grupo de saída fotográfica (hobbie que ambos temos) ou clube do livro (eu sou bem compulsivinha), por exemplo.

E no fim, o que fez mais diferença foi a nossa disponibilidade.

Resolvemos nos abrir e ver no que daria. Nem todo mundo que cruza o nosso caminho vai virar uma amizade incrível, isso é natural, mas a gente não viveu nenhuma experência desagradável por conta disso também.

Então a minha dica pra você que mudou ou tá mudando de país e tem essa preocupação é se abrir pro mundo. Bota a cara pra jogo e vê o que acontece!

Imagem destacada: Priscilla Du Preez via Unsplash

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